2020-2030-2040: Décadas de instabilidade e oportunidades 

Introdução

As sociedades contemporâneas terão escolhas importantes a fazer nas próximas duas décadas para assegurar um futuro justo e sustentável para todos. A apenas 8 anos do prazo da Agenda 2030, os avanços políticos, sociais, econômicos e ambientais têm tido progresso lento, e o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ficou mais ameaçado pelas consequências da pandemia de covid-19. Um mundo com mais insegurança para a humanidade nas questões de alimentos, água, energia, migração e perdas de recursos naturais é uma realidade inegável em diversas partes do globo. Todavia, os diferentes riscos podem ser reconhecidos, e, a partir daí, estratégias de mitigação podem ser construídas, buscando melhorar as condições de vida humana enquanto se preserva a resiliência dos sistemas naturais.

A concepção da agricultura como uma atividade multifuncional, conectada às dimensões econômica, social e ambiental, consolidou-se nos anos 1990 (FAO, 1997; FAO/Netherlands Conference, 1999; OECD, 2001). Esse movimento ganhou força ao longo da década seguinte (Wilson, 2007; OECD, 2008), colaborando com a ascensão de agendas que hoje abordam as interações entre modelos agrícolas, segurança alimentar e nutricional e desenvolvimento sustentável. 

O Agro tem ocupado novos espaços na sociedade, passando a desempenhar papéis cada vez mais conectados com agendas relacionadas a desenvolvimento, direitos humanos e paz e segurança, pilares importantes das políticas discutidas em vários fóruns globais. Essa tendência relacionada à permeabilidade da agricultura junto a outras agendas ampliará a conexão do Agro com os debates relacionados à segurança humana, que, por sua vez, contempla as esferas econômica, alimentar, de saúde, ambiental, pessoal, comunitária e política (United Nations Trust Fund for Human Security, 2016).

A modelagem dos sistemas alimentares do futuro terá que dialogar e conectar-se diretamente com as diversas esferas da segurança humana, dando, assim, uma dimensão da ampliação da missão do Agro para as próximas décadas. Isto é, contribuir com a superação daquelas externalidades para passar a entregar sustentabilidade do ponto de vista econômico, social e ambiental. 

O aumento da importância do Agro como vetor de fomento da segurança humana mostra-se também em recente relatório da Universidade das Nações Unidas (UNU) sobre riscos e desastres. Ao analisar dez desastres críticos (naturais ou não) ocorridos em 2020 e 2021, a UNU constatou que, entre as causas primárias mais comuns compartilhadas entre eles, estão subavaliação de custos e benefícios ambientais na tomada de decisão (causa compartilhada por 6 dos 10 desastres analisados), cooperação nacional e internacional insuficiente (5 dos 10) e pressão global da demanda de bens e produtos (4 dos 10). Dos impactos desses desastres, 7 de 10 resultaram em redução da segurança alimentar e hídrica da região afetada, e todos levaram à perda de meios de subsistência (Interconnected..., 2021).

O crescente reconhecimento das interdependências entre sistemas naturais e sociais mostra que abordagens integrativas são o caminho para desenhar melhores soluções, visando ao atendimento das necessidades e aspirações dos indivíduos e suas comunidades. Nessa perspectiva, o Agro mostra-se bem posicionado para colaborar com pilares fundamentais das estratégias nacionais e globais que terão impacto tanto na redução da pobreza e da fome como na ampliação da estabilidade política e do bem-estar social.

As forças e dinâmicas relacionadas a esses desafios e oportunidades contemporâneos que impactam a agricultura global e nacional, assim como o contexto regulatório que influenciam presente e futuro, são exploradas brevemente nos tópicos desta sessão.

 

Referências