Mudança do Clima

Com base em dados e simulações realizadas em diversas regiões do Globo, o quinto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) destacou que o aquecimento global é inequívoco. Desde 1950, são observadas mudanças sem precedentes no período de décadas ou milênios: a atmosfera e o oceano aqueceram, as camadas de gelo e neve diminuíram e o nível dos oceanos subiu. Caso as emissões de gases de efeito estufa (GEE) sigam em elevação nas atuais taxas, a temperatura do planeta poderá aumentar 5,4 °C até 2100.

Como consequência, o nível do mar poderá subir até 82 cm e impactar grande parte das regiões costeiras. Para o Brasil e a América do Sul, os principais impactos previstos são:

  • Extinção de habitat e de espécies, principalmente na região tropical.
  • Substituição de florestas tropicais por savanas e de vegetação semiárida por árida.
  • Aumento de regiões em situação de estresse hídrico, ou seja, sem água suficiente para suprir as demandas da população.
  • Aumento de pragas em culturas agrícolas.
  • Aumento de incidência de doenças como dengue e malária, além de migração de populações.

A agricultura ocupa dois papéis no cenário de mudanças do clima. É uma atividade que emite gases de efeito estufa (GEE), o que contribui para o aquecimento global, e é uma atividade altamente sensível às mudanças do clima. Isto coloca a necessidade de uma agricultura de baixo carbono e do desenvolvimento de tecnologias para mitigar os efeitos negativos do clima nos cultivos e nas criações.

Quais os caminhos para lidar com as mudanças climáticas?

Pesquisador da Embrapa, Eduardo Assad fala sobre redução de emissões e adaptação.

O que pode acontecer com o Planeta?

Os cientistas do IPCC desenvolveram modelos climáticos para responder como o clima se comportará em diversos cenários de emissões. São quatro os cenários elaborados:

Cenário 1 - Muito otimista

Supõe que o sistema terrestre armazenará 2,6 watts por metro quadrado (W/m2) adicionais de energia e representa uma redução gradativa das emissões de gases de efeito estufa, atingindo emissão zero por volta de 2070. Os processos de absorção de gases podem superar as emissões em algum momento e, nesse caso, os aumentos esperados da temperatura média terrestre seriam entre 0,3°C e 1,7°C, de 2010 até 2100, enquanto aumento do nível do mar seria entre 26 cm e 55 cm. Esse cenário é considerado “muito otimista” e tem sido preterido nas análises de projeção climáticas.

Cenário 2 - Muito utilizado

Supõe um armazenamento de 4,5 W/m2 e representa uma estabilização das emissões de gases de efeito estufa antes de 2100. Nesse caso, a temperatura terrestre aumentaria entre 1,1°C e 2,6°C, e o nível do mar subiria entre 32 cm e 63 cm. Esse cenário tem sido um dos mais utilizados.

Cenário 3 - Moderado

Supõe o armazenamento de 6,0 W/m2 com estabilização das emissões de gases de efeito estufa logo após 2100. O aumento da temperatura terrestre estaria entre 1,4°C e 3,1°C, e a elevação do nível do mar ficaria entre 33 cm e 63 cm. É um cenário ligeiramente mais pessimista que o anterior.

Cenário 4 - Pessimista

Considerado o mais “pessimista”, é caracterizado pelo aumento nas emissões sem sua estabilização, ou seja, as emissões continuam a crescer, bem como a concentração de gases de efeito estufa ao longo do tempo. O aumento da temperatura terrestre estaria entre 3,2°C e 5,4°C, e a elevação do nível do mar ficaria maior do que a do Cenário 3.

Algum destes quatro cenários é considerado mais provável?

Pesquisar da Embrapa, Renato Rodrigues fala sobre como utilizar cenários de mudanças do clima para embasar pesquisas científicas.

Nenhum modelo é capaz de simular com exatidão, mas em todos os cenários de emissão, projeta-se aquecimento para o Continente Sul Americano. Os máximos previstos de aquecimento se localizam na região Centro-Oeste, em todas as estações do ano, e se estendem para as regiões Norte, Nordeste e Sudeste do país até o final do século 21. Esses máximos de aquecimento médio no final do século podem variar entre 2°C e 8°C em algumas áreas.

Esses cenários indicam a crescente vulnerabilidade dos sistemas agrícolas, que, associada ao aumento da demanda mundial por alimentos, água e energia, representa enorme desafio para a sustentabilidade da produção, dos ecossistemas terrestres e aquáticos e dos serviços à sociedade. Estudo utilizando um cenário de aumento de 3° C até 2050 identificou que, nessa situação, o Brasil teria como impacto uma redução de até 50% na produção agrícola.

Projeções regionalizadas de mudanças da temperatura (°C) entre o presente e diferentes períodos futuros. Fonte: Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (2016).

A aplicação de conhecimentos e tecnologias que gerem inovações no setor agrícola poderá minimizar impactos negativos causados pela mudança do clima. Uma estratégia robusta de adaptação não pode prescindir de um planejamento de longo prazo focado no desenvolvimento de novos processos, práticas e tecnologias. Nesse contexto, novas cultivares, genes e sistemas produtivos, como ILPF, são tecnologias e práticas capazes de amenizar danos potenciais.

Uma palavra-chave neste contexto é resiliência. As inovações tecnológicas devem ser capazes de incrementar a resiliência dos sistemas produtivos, ou seja, torná-los menos vulneráveis às mudanças do clima. Para isto, são necessários investimentos em pesquisa agropecuária, ações estruturais e comunicação clara e objetiva com a sociedade civil, a fim de ampliar a compreensão dos riscos difusos associados aos efeitos das mudanças do clima.

No que diz respeito à mitigação de emissões, o Brasil já conta com tecnologias com grande potencial e assumiu, em fóruns internacionais, os seguintes compromissos até 2020:

Compromissos assumidos pelo Brasil pata mitigação de emissões de GEE até 2020

Fonte: Plano ABC (2012)

Em 2015, na conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP 21), o Brasil foi o único país em desenvolvimento que se comprometeu com a redução absoluta de emissões de GEE. O país propôs reduzir 37% de suas emissões até 2025, em relação aos níveis de 2005, além de uma contribuição indicativa subsequente de reduzir as emissões em 43% até 2030. A proposta indica elementos tanto de mitigação de emissões de GEE quanto de adaptação aos efeitos da mudança do clima que devem compor o conjunto de estratégias nacionais. A implementação é prevista por arranjos nas seguintes áreas: biocombustíveis, mudança de uso da terra e florestas, agricultura, energia, indústria e transportes.

Ações de mitigação já ocorrem em todo o país, nos diversos setores da economia. No setor agrícola especificamente, a estratégia é fortalecer a intensificação sustentável na agricultura, por meio da restauração de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e pelo incremento de 5 milhões de hectares de sistemas de ILPF até 2030, além dos compromissos já assumidos no Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono).

O que é Agricultura de baixa emissão de carbono (ABC)?

Fomento à Ciência e Tecnologia

Em vários países, são crescentes os investimentos públicos e privados em pesquisa para o desenvolvimento de sistemas de produção mais resilientes à mudança do clima. Um conjunto de tecnologias, em diversos estágios de desenvolvimento e adoção foi selecionado e avaliado de forma aprofundada porém é improvável que essas sejam as únicas tecnologias que serão importantes nos próximos 40 anos. Recursos são investidos no desenvolvimento tanto de práticas tradicionais de manejo quanto de modernas aplicações agrícolas e novas variedades de cultivos mais resilientes à mudança do clima.

Entre as práticas e os sistemas aplicados no Brasil, podem-se destacar:

  • Plantio direto.
  • Manejo integrado da fertilidade de solos.
  • Captação de água nos sistemas agrícolas.
  • Irrigação inteligente.
  • Agricultura de precisão.
  • Variedades melhoradas – com tolerância ao calor, à seca e outros estresses abióticos.
  • Eficiência no uso de Nitrogênio.
  • Agricultura orgânica.
  • Aprimoramento do manejo integrado na proteção de culturas contra doenças, insetos e ervas daninhas.

Novos parcerias e arranjos institucionais também estão presentes no país. Um exemplo é a Rede ILPF, uma associação com integrantes do setor público, da iniciativa privada, do cooperativismo e do terceiro setor, com o objetivo de acelerar a ampla adoção dos sistemas de integração por produtores rurais. É uma parceria público-privada para a intensificação sustentável da agricultura brasileira.

ILPF

Entenda melhor como funciona o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, uma revolução em curso na agricultura brasileira.

Outra ação é a Sala de Inovação, iniciativa do governo para coordenar as ações de atração de centros e projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação de grandes empresas para o Brasil. Essa atração é um importante fator de aumento da competitividade do país, pois busca ampliar competências tecnológicas, formar talentos locais e aumentar o valor agregado das exportações.

A efetiva ampliação do uso do mix de tecnologias terá impactos importantes na produção agrícola, na segurança alimentar, no comércio e na qualidade ambiental. A diversidade dessas opções tecnológicas ilustra as principais vertentes de pesquisa em face da crescente escassez de recursos naturais, mudança do clima e maiores demandas de alimentos. Métricas adequadas de avaliação da sustentabilidade dessas práticas devem ser desenvolvidas e aprimoradas, para dar suporte à adoção em larga escala dessas tecnologias.

O futuro exige sofisticados mecanismos para aquisição de dados, processamento de informações e construção de modelos para simular riscos e avaliar a vulnerabilidade de sistemas agrícolas. O desenvolvimento e o aperfeiçoamento destes mecanismos deve ser uma prioridade para o país. Um sistema de análise de metadados terá importante impacto no apoio ao processo de tomada de decisão e será viabilizado com o uso de modernas ferramentas computacionais destinadas à interoperabilidade analítica (analytics) de diferentes bancos de dados.


Obs.: as informações apresentadas nesta página estão devidamente referenciadas no documento completo Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira (PDF).

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